Raquel Arantes: Um sonho não pode ser roubado
July 22, 2013 by William K. Wolfrum
Há alguns meses atrás, a artista brasileira Raquel Arantes, minha sogra, estava se preparava para sua primeira exposição de esculturas. Apesar de viver em Belo Horizonte, Arantes elaborou grande parte de seu trabalho em São Paulo, sob a tutela do proeminente artista brasileiro Cícero D’avila. Durante uma ida a São Paulo, para buscar trabalhos que estavam em seus estágios finais e trazê-los para Belo Horizonte, tendo em vista a exposição, Arantes se viu vítima de um crime que arrasaria muitos artistas.
Ao terminar de colocar as esculturas em seu carro, um homem armado apareceu. O ladrão levou o carro e seu conteúdo, ambos nunca mais localizados.
É claro que fiquei extremamente triste e revoltada porque senti tão impotente naquele momento em que vi uma arma apontada para mim, me obrigando a deixar para traz um trabalho que eu tinha me dedicado tanto e com tanto amor!” disse Arantes.
“A gente não esquece o ocorrido, mas faço um trabalho mental para superar essa tristeza e essa raiva,” disse Arantes, 62.
Assim, com pouco tempo para lamentar suas esculturas roubadas, Arantes voltou ao trabalho e recriou as peças roubadas. Suas obras já estão prontas para a exposição, que começa no dia 25 de julho, no Museu Inimá de Paula, em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
“Como meu marido Gilson disse, eles levaram o que eu construí, mas eles não levaram a minha capacidade de construir algo novamente”, disse Arantes. “Assim, foi com esse espírito que eu trabalhei para superar o que perdi.”
Por sua vez, D’avila - que admitiu não estar ciente que Raquel tem 62 anos - ficou impressionado com sua dedicação para recriar seu trabalho.
“Notavel a sua determinacao em suplementar a perda de sua escultura que ja estava pronta para ser fundida em bronze. Vejo que para isso ela estava bem focada no seu objetivo, tendo portanto superado este grande trauma que veio em um momento muito delicado: a preparacao de suas obras para a exposicao, confrontada ao reduzido tempo que restava,” disse D’avila.
A Arte, de uma forma ou de outra, sempre foi uma parte da vida de Raquel. Mas apenas mais tarde, com os filhos já crescidos, ela pode se dedicar, com mais intensidade, a diversos trabalhos artísticos, experimentando com uma grande variedade de materiais, antes de se apaixonar por esculturas.
“Eu me destacava nas aulas de artesanato na escola e esta habilidade se desenvolveu ao longo dos anos”, disse Arantes, que quando adolescente fazia bonecas de pano e outras coisas dentro de um orçamento apertado.
“Quando adulta, comecei a trabalhar com diversos materiais, tecidos, couro, madeira, etc”, disse Arantes. “Mais tarde, quando tive mais tempo, comecei a pintar porcelana e, em seguida, segui para a arte em cerâmica, através da qual eu pude criar peças personalizadas. ”
Mas foi o simples barro que ajudou Arantes a encontrar um meio que funciona perfeitamente para ela.
“Foi um salto descobrir que o que eu mais gosto é criar minhas próprias formas, usando argila”, disse Arantes. “Hoje, eu vejo que amo fazer esculturas de formas e estilos diferentes.”
D’avila - que é o mentor de Arantes e a ajudou a aprender técnicas específicas - está em êxtase com o crescimento continuado de sua protegê, bem como seu compromisso com o ofício.
“Acho que melhorou muito. Alem do seu inegavel talento, ela demonstra muita determinacao, pois faz um sacrificio imenso se deslocando de BH para SP todas as vezes que tem aulas. O seu trabalho, hoje, é o melhor testemunho disso,” disse D’avila.
Arantes - que também agradeceu a sua família, D’avila e amigos, como Nestor de Oliveira e Marcus Aurelius por seu apoio e ajuda - revela que há alguém especial que é a inspiração para sua primeira Mostra.
O nome da exposição é “Albernaz” (seu nome de solteira) e dedico este evento ao meu pai, que teria um orgulho imenso ver o meu trabalho, porque como eu, ele era extremamente hábil e fez coisas incríveis com suas próprias mãos. ”
Afinal, o que poderia ter sido um grande obstáculo, transformou-se em um triunfo para Arantes, pois ela acredita que seu trabalho, após o roubo, está ainda melhor.
“Cada peça é única. Fiz as novas esculturas pensando no que foi tomada, mas cada peça tem pequenos detalhes que diferem um do outro tornando-os únicos.
“Eu acho que cada peça que faço acrescenta algo de novo, e vejo que evolui ao longo do tempo”, disse Raquel.
-WKW
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